1.
O DESVENDAR DA POÉTICA PESSOAL
Sempre gostei de caminhar a beira da
praia, mais precisamente na Praia do Cassino, apreciando, pensando, refletindo.
Aguço todos os meus sentidos em um só lugar: Cato conchas, olho o mar, me banho
em suas águas salgadas, sinto a brisa bater em mim, escuto o barulho das ondas,
sinto a areia em meus pés, sinto o cheiro de maresia, o sol esquentando, o
cabelo voando, ouço o som da natureza. Essa mesma natureza que pede socorro,
que grita e implora para que o ser humano preserve a vida dos animais que ali estão.
Caminhando na praia não vi só beleza, vi animais mortos enrolados em pedaços de
redes abandonadas, muito lixo jogado poluindo toda aquela beleza, pinguins e
aves sujos de óleo, tartaruga, baleia, toninha, leão-marinho, todos esses
animais mortos talvez pela ação do homem. Essa relação que tenho com a natureza
me causa uma inquietação e necessidade de encontrar uma maneira de mostrar o
amor pela natureza e ao mesmo tempo a tristeza que sinto ao me deparar com todo
o caos que o homem provoca.
E foi com a Tridimensionalidade que eu vi
a possibilidade de expressar as minhas ideias de forma livre e ao término de
todo o processo criativo, tinha diante dos meus olhos e ao meu alcance, o meu
próprio pensamento materializado em forma de escultura e tudo isso me trouxe
conhecimentos novos, me motivando em busca de mais informações. E é nessa linguagem
poética que consigo me expressar, me libertar, me emocionar e ainda encontrar
soluções internas e externas para dar vida a um propósito de criação.
Quando falo em Tridimensionalidade, refiro-me
a tudo aquilo que possui três dimensões, largura, altura e profundidade. Essa
escolha pela linguagem tridimensional foi a mais adequada na realização dos
meus objetivos, pois aumentou a chance de êxito no processo de comunicação e
relação desejada com o receptor.
Com isso
me aprofundei na expressão tridimensional, da arte, fiz alguns trabalhos e
pesquisas que me levaram naturalmente a enxergar o caminho que eu sempre quis
trilhar, ou ainda, que eu estava trilhando.
Produzi esculturas figurativas feitas de
conchas, correspondendo a uma reflexão sobre os animais que habitam ou visitam
a beira do mar, usando a concha como material expressivo. Pretendendo mostrar
através das esculturas, a importância de preservar o meio ambiente, respeitando
a biodiversidade, ou seja, a vida sobre a terra. A escolha da concha se dá para
que a escultura tenha uma sincronia com o meio ambiente, buscando através
delas, reflexões sobre questões ambientais e artísticas. A natureza sempre me
servirá de referência, matéria prima e ambiente expositivo que é parte
integrante em meu trabalho, por isso, decidi colocar as obras ao ar livre, em
um local que tendemos a banalizar, como forma de transformar o cotidiano e
romper com a inércia e a indiferença em relação à arte. Tais objetos serviram
para a reflexão sobre o objeto escultórico e para o diálogo com obras de
artistas os quais também circulam por esta poética.
Essa concha me serviu, excitando a
cada volta o que sou, o que eu sei, o que ignoro... Como Hamlet, pegando um
crânio na lama e aproximando-o de seu rosto vivo, contempla-se horrivelmente,
de alguma forma, e quase entra em sua meditação sem saída, olhar humano, esse
pequeno corpo calcário, oco e espiral convoca ao seu redor uma grande
quantidade de pensamentos, sendo que nenhum deles acaba... ( VALÉRY, 1999,
pg.108).
Para mim, assim como para o autor citado,
falar sobre as conchas é algo encantador, as palavras se transformam em poesia,
pois elas são verdadeiras obras de arte da natureza e cuja beleza nos deixa com
dificuldade de arranjar adjetivos. Paul Valéry (1999, pág.108) contempla a sua
forma com pensamentos que nunca acabam, pois esse pequeno corpo lhe causa
sentimentos e sensações infinitas. As conchas também me atraem e encantam-me,
não entendo o porquê de me sentir assim. Talvez pelo fato de saber que elas
viveram no mar, que por lá estiveram embaladas pelas ondas, guardaram dentro de
si bem protegido um ser vivo, que a certa altura morreu, e então são trazidas
pelo mar, vieram dar à praia uma harmoniosa composição com sua forma misteriosa.
“Um cristal, uma flor, uma concha,
destacam-se da desordem comum do conjunto das coisas sensíveis. São para nós
objetos privilegiados, mais inteligíveis à vista, conquanto mais misteriosos
para a reflexão que todos que vemos indistintamente”. (BACHALARD, citação de
Valéry, pg. 118).
No livro “A poética do espaço”, capítulo
V, chamado “A concha”, há uma citação de Paul Valéry destacada acima, que
traduz um pouco desse universo poético envolvendo a concha. É por tudo isso que
me envolvi nesse assunto, uso a concha como um meio de expressar meus
pensamentos e reflexões adquiridos ao longo das andanças pela praia, nas pesquisas
realizadas no decorrer do curso de Artes Visuais, nos debates formais e
informais, enfim tudo que acumulei para que eu pudesse colaborar um pouco com a
arte, descobrindo a possibilidade de unir à concha a escultura.
2. Praia do Cassino: entendendo melhor o
espaço
A Praia do Cassino está localizada na
cidade de Rio
Grande, no estado do Rio
Grande do Sul. Com mais de cem anos, é considerado o balneário marítimo
mais antigo do Brasil. Durante os meses de verão, o balneário recebe uma grande
quantidade de turistas que utilizam a região costeira para recreação e lazer.
Em
1890 o Cassino era inaugurado oficialmente com o nome de Vila Sequeira. Contam
os mais velhos, que o nome Cassino se deu devido a uma grande e completíssima
sala de jogos aqui instalada. Esse impecável "cassino" ficou
conhecido e admirado Brasil a fora e junto veio à fama e por consequência o
apelido nos velhos tempos esteve localizado no antigo Hotel Stella Maris, mais
tarde Hotel Querência e atualmente um prédio antigo utilizado para fazer festas
que guarda em sua fachada a modernidade dos velhos tempos.
Hoje o Balneário do Cassino possui outra
fama, talvez não na mesma proporção da antiga, mas que muito orgulha seus
moradores, a de ser a maior praia do mundo em extensão. São aproximadamente 224
km de praia, localizado no Extremo Sul do país, sendo considerada uma das mais
importantes praias do Rio Grande do Sul[1].
Praia do Cassino, local que construo meus
pensamentos, buscando sempre referência para a minha pesquisa e também o
ambiente em que deposito meus trabalhos escultóricos, que se concentram entre a
Estátua de Iemanjá[2]
que é uma escultura da "Rainha do Mar" (Figura: 1) que foi esculpida
pelo artista plástico rio-grandino, Érico Gobbi, toda em cimento, até o navio Altair[3]
(Figura: 2) que ficou encalhado no inverno de 1976, devido a uma grande
tempestade. Ele está localizado a 10 km ao sul da estátua da Iemanjá. O local e
propício ao surf e a pesca e se tornou uma grande atração turística.
Figura
1: Estátua de Iemanjá, Érico Gobbi, Praia do Cassino, Imagem: Elisângela
Santos, 2012, Arquivo pessoal.
Figura 2: Navio Altair,
Praia do Cassino, Imagem: Elisângela Santos, 2012, Arquivo pessoal.
2.1 A land arte embalada pelo mar: entendendo melhor essa
vertente
Refiro-me a Land arte ao mar, mas não só
ao mar ela faz referência e sim a toda a prática artística de intervir em
paisagens, formações geológicas ou qualquer cenário intocado, natural, surgida
na década de 1960 e que se perpetua na até os dias atuais. Ao longe de seus
mais de quarenta anos, obras de artistas consagrados se encontram recônditas em
locais de difícil visitação.
Em meados
dos anos 60, artistas americanos e europeus começaram a se expressar com um
novo tipo de arte contrapondo com o extremo minimalismo na composição de obras
daquela época e o seu consumo alheio, junto com uma conscientização ambiental.
O Land Art (arte da terra, da paisagem) talvez não possa ser chamado de um
movimento artístico, mas foi uma forma de expressão que rompeu com museus e
galerias. Isso porque esta arte usa como ferramenta a própria natureza, a
própria paisagem se torna a moldura para a arte, e a arte a moldura da
paisagem. Os materiais usados variam de pequenas folhas até pedras, elementos
muitas vezes em seu estado bruto (daí é possível concluir uma relação com a
Arte Povera). A “arte da paisagem” é exposta em desertos, praias, montanhas,
mares e campos. Muitas vezes algumas obras desaparecem com o tempo devido a
erosões e mudanças naturais. Logo, é muito difícil presenciar uma obra dessas,
e seus rastros acabam aparecendo apenas em fotos e filmagens.
O Land
Art é o que podemos chamar de “dispositivo de paisagem”. São obras onde os
artistas se fundem com a natureza, onde o humano e o natural se misturam em
consequência da maior apreciação do ambiente ao nosso redor. E o que pode ser
mais interessante do que uma obra que está em constante mudança? Que se
transforma ao longo do tempo, junto com o mundo, junto com as decisões humanas?
Que a cada registro é vista de modo diferente? É impressionante como uma
escultura pode mudar a percepção da paisagem que vemos ao nosso redor. Algumas
destas obras acabam por se decompor, tornando-se eternas e então finalmente
completadas. Logo, em minha opinião não podem ser chamadas de efêmeras. Outra
escultura muito conhecida é a Spiral Jetty de Robert Smithson, artista no qual
trarei mais adiante em comparação com um dos meus trabalhos, um espiral feito
de pedras basálticas e terra que adentra o mar com um comprimento de 457,2
metros e largura de 4 metros. Localizado em Great Salt Lake, Utah, nos Estados
Unidos, o caminho foi feito em 1970 e é preservada até hoje, podendo ser
visitada por quem quiser[4].
2.2 Rio Grande e a Educação Ambiental
Existem
aqui alguns órgãos e instituições que cuidam da manutenção e preservação ambiental,
a atividade pesqueira nessa área é bem fiscalizada e o turismo já trouxe alguns
pesquisadores de várias partes do mundo com objetivo de conhecer a fauna
marinha localizada na praia do Cassino, conhecida como segunda maior em
extensão no mundo.
Anualmente
são levados de Rio Grande á Antártida estudantes universitários e professores
que, juntamente com pesquisadores, realizam expedições com fins ambientais
apoiados pela Marinha do Brasil no Navio chamado Ory Rangel.
Por ser
uma cidade portuária em desenvolvimento econômico, por possuir um setor
industrial que oferece risco ao meio ambiente com a produção de fertilizantes,
produtos químicos de limpeza, uma refinaria de petróleo, entre outras, abriga
um cuidado ambiental especializado, dentro da estrutura de RG posso citar um
núcleo de Educação Ambiental NEMA (Núcleo de Educação e Monitoramento
Ambiental), responsável pela educação ambiental na comunidade costeira e
atuante junto á órgãos como o Museu Oceanográfico, FURG, IBAMA, SEMA, e a
própria Prefeitura Municipal, que atua solucionando os problemas ambientais. Despertando
a consciência ecológica para a conservação do meio ambiente no sentido de
minimizar o impacto do homem com a natureza, através de aspectos
sócio-econômicos o NEMA planeja e executa projetos que visam o uso adequado dos
ambientes costeiros e marinhos, oferecendo todas as informações necessárias á
comunidade através de publicações, palestras e cursos.
Alguns
projetos de educação ambiental estão sendo implantados desde 1985, quando
estudantes preocupados com a situação do município resolveram explorar melhor a
região e deram assim o pontapé inicial para o que seria mais tarde de muita importância
para a biodiversidade local. Desde então
executa convênios com instituições públicas e privadas, de porte internacional,
federal, estadual e municipal. Sua função é prestar serviços para que ocorra a
Gestão Ambiental despertando o interesse de instituições governamentais e a
sociedade.
Atualmente
existem funcionários de áreas específicas atuando no NEMA, são oceanólogos,
biólogos, geógrafos, arte-educadores, voluntários e estagiários de diversas
universidades do país. Outros estados já executam trabalhos costeiros dessa
região tais como; Reserva Biológica Marinha do Arvoredo (SC), Parque Nacional
Marinha dos Abrolhos (BA) e Projeto Peixe-boi Marinho (PB).
Nos últimos anos a questão ambiental tem sido abordada com muita competência na região de RG e arredores, devido a expansão marítima, agricultura familiar e a pesca artesanal. Temos ainda muita evolução pela frente quanto á esse aspecto , porém há uma segurança em saber que muitos são os órgãos capacitados em coordenar e implantar projetos que futuramente darão suporte ás gerações que já caminham para um planejamento ambiental nessa região.
Nos últimos anos a questão ambiental tem sido abordada com muita competência na região de RG e arredores, devido a expansão marítima, agricultura familiar e a pesca artesanal. Temos ainda muita evolução pela frente quanto á esse aspecto , porém há uma segurança em saber que muitos são os órgãos capacitados em coordenar e implantar projetos que futuramente darão suporte ás gerações que já caminham para um planejamento ambiental nessa região.
Entre
esses estão o IBAMA que utiliza a patrulha da PM Ambiental para vistoriar a
Reserva Ecológica do Taim, fazer abordagens quanto á caça e pesca predatórias
na região, a SEMA que disponibiliza fiscalização, o SGA RG e a VENTO SUL
capacitados para licenciamento ambiental, a FURG (com boa estrutura de
pesquisa), o MUSEU OCEANOGRÁFICO com o trabalho do CRAM, que recebe animais
marinhos de todos os lugares para tratamento e reabilitação para o mar, a CIRM (Comissão
Interministerial para os Recursos do Mar), FNMA-MMA (Fundo nacional do meio
ambiente-Ministério do Meio ambiente), FEPAM (Fundação Estadual de Meio
Ambiente), que analisa constantemente a qualidade das águas da região, além de
todas as Prefeituras municipais, a de RG que tem apoiado a questão do meio
ambiente junto á sociedade, com a criação de um depósito para tratamento de
resíduos sólidos e coleta seletiva de lixo reciclável direto nos bairros da
cidade.[5]
E é por
tudo isso que percebo que são muitos os órgãos fiscalizadores, é enorme a
vontade de muitas pessoas engajadas em ajudar a natureza e eu com o mínimo de
contribuição, busco ajudar, com o mesmo objetivo, através da arte. O que me
leva a crer que a Educação Ambiental intensificada de forma que possa atingir
todos os níveis da sociedade, torna-se cada vez mais eficaz quando percebo a
preocupação da comunidade em geral com a qualidade de vida do meio ambiente.
A partir
do momento em que a população conhecer as consequências de seus atos e no que
isso pode interferir do outro lado do planeta, pode-se concluir que todo e
qualquer que tenha sido o esforço de pesquisadores, cientistas, ativistas ou
até mesmo dos que são contra atitudes preservacionistas ou conservacionistas, não
foi em vão.
3. TRABALHO: O
VISITANTE
Caminhando na beira da praia, num desses
dias de inverno, sempre em busca de elementos para a minha pesquisa, avistei um
pinguim morto, estava coberto de óleo, fiquei muito triste com o seu lamentável
fim. E ao refletir um pouco, lembrei logo do bicho homem, onde alguns destroem
a vida dos animais como a deles próprias. Foi quando exteriorizei minha vontade
de expressá-los em forma de escultura, em tamanho natural.
Nesse trabalho produzi uma escultura de 70
cm, feita de conchas, baseada na forma de um pinguim verdadeiro. O pinguim de
referencia é da espécie pinguim de Magalhães que é geralmente o mais comum
encontrado na praia do Cassino.
A escultura intitulada “O visitante”
(Figuras: 3 e 4) foi instalada na Praia do Cassino, na beira do mar, mais
precisamente na direção da estátua de Iemanjá, pois é o local de maior
movimento do público. E a partir de um olhar sensível para as conchas, produzi
a escultura em forma de pinguim, unindo o estudo das conchas juntamente com os
pinguins e pude transformar todas as ideias e estudos em produção artística.
Tais objetos serviram para a reflexão sobre o objeto escultórico e para o
diálogo com obras de artistas os quais também circulam por esta poética.
Para debater com o meu trabalho “O
visitante”, cito o artista Theo Jansen[6]
mistura de artista e engenheiro, o holandês cria estranhos animais de plástico
que caminham impulsionados pela força do vento, como por exemplo, a obra
Animares Percipiere Thunder (Figura 5). As obras de Jansen andam, como insetos
gigantescos, elas se movem pelas praias holandesas onde o artista as instala.
Compostas de material leve e barato – tubos plásticos, fios de náilon, fita
adesiva –, essas criaturas impressionam pela complexidade dos movimentos.
Impulsionadas ao acaso, pelo vento, dão a impressão de ser vivas. Jansen quer
produzir criaturas realmente "vivas", reunidas em "manadas"
cujos integrantes competem entre si para se reproduzir.
Eu tento refazer a natureza com a
ideia de que, ao fazê-lo, poderei descobrir os segredos da vida e encontrar os
mesmos problemas do criador real. (JANSEN, apud
EMPEL, pág.83).
O artista busca refazer a natureza, tentado
assim desvendar os mistérios da vida, os segredos da criação. Talvez seja um
modo de sentir o poder de criar seres quase vivos em seu desejo de corresponder
sua expectativa interior como escultor.
Figura 5: Animares Percipiere Thunder, Theo Jansen, 2005, Holanda, Foto: Loek Ver Der Klis. Fonte: http://www.santafineart.com.br/santa005/
Esse
artista não usa elementos da natureza na construção de suas obras, mas tem a
praia como ambiente especifico para que sua criação ganhe força, desse modo
posso comparar suas criaturas com as minhas, uma das diferenças é que utilizo
elementos da natureza, mas o local escolhido é o mesmo, a praia.
Em outras caminhadas pela praia, buscando
referências para a pesquisa, me deparei com a presença das garças. Fiquei ali
por um longo tempo a observar seus movimentos e percebi o como somos diferentes
delas, andamos sempre impacientes, fazemos tudo rápido e com pressa para chegar
sei lá onde, mas as garças me mostraram que é preciso parar para poder continuar
de forma mais harmoniosa. E lá estava eu novamente a beira do mar, buscando
novas ideias, com meus pensamentos livres, voando feito uma garça, foi quando
notei como é simples a liberdade. Ser livre como uma garça, morar em um lugar
lindo, ter uma visão privilegiada da vida, com harmonia, paciência, sem pressa,
sentir o vento em suas asas, planar, descansar, esperar o momento certo de
seguir e assim é o momento de refletir e idealizar um novo projeto escultórico,
sem pressão se concretiza o pensamento no momento certo.
O trabalho “A graça das garças”
(Figuras 6 e 7), surgiu a partir de um devaneio e de uma ânsia de preservar seu
habitat natural, envolvendo tudo que está ao seu redor. E novamente um desejo
de exteriorizar minha vontade de ter um mundo melhor.
Foram realizadas 10 esculturas de conchas,
que expressam as garças na beira da Praia do Cassino. E com o mesmo objetivo do
trabalho anterior, chamando a atenção para a beleza e para a necessidade de
cuidados com o meio ambiente.
O escultor Jason de Caires Taylor[7]
criou uma série de esculturas submarinas (Figura 8), na costa da Ilha de Granada e também na
costa britânica. Em um período de dois anos, as esculturas já se inseriram na
paisagem marinha da região e viraram a "casa" de diversos peixes e
outros animais, que usam a arte como um recife artificial.
... as esculturas serão uma exposição mutável
conforme a natureza coloniza sua superfície e o movimento das marés dá forma e
textura aos objetos. (TAYLOR, Revista Galileu).
Os artistas são criativos por natureza,
mas alguns realmente conseguem recriar a maneira de enxergarmos o mundo.
Provavelmente já vi esculturas nos mais diferentes tipos de ambientes, mas me
surpreendi ao saber que há um artista especialista em criá-las para que fiquem
expostas no fundo do mar.
Suas esculturas submarinas, pensadas para
criar recifes artificiais e "colonizar" o ambiente, acabam se
transformando em parte da paisagem do fundo do mar, tornando-se
"casa" para diversos crustáceos e algas. (Revista época).
A experiência (de fazer esculturas)
debaixo do mar é muito diferente. É preciso fazer considerações sobre aspectos
físicos e ópticos. Os objetos parecem ser 25% maiores no mar. As cores também
são afetadas porque a luz é refletida e absorvida de maneira distinta, de
acordo com a profundidade. (TAYLOR, Revista Época).
Assim é possível perceber a relação
harmoniosa que possui as esculturas com o local escolhido, possui toda uma
conexão entre arte e natureza, envolvendo todos os elementos em um só patamar,
Em 2006, o artista ganhou fama
internacional por criar o primeiro parque de esculturas submarinas, em Granada,
no Caribe. Atualmente, o trabalho de Taylor também pode ser conferido em uma
exposição a 8 metros de profundidade, em Cancún, no México[8].
Ao usar esculturas para criar recifes artificiais,
Taylor pretende enfatizar a necessidade de entendermos e preservarmos o meio
ambiente. Por isso me identifiquei com seu trabalho, que tem como objetivo
cuidar da natureza, da fauna marinha. Embora seja diferente em alguns aspectos,
onde os dele são instalados no fundo do mar e os meus é na beira do mar, mas
ambos possuem uma boa relação de preservação.
A baleia minke (Figura 8) por mim
registrada serviu de reflexão, pois foi à única baleia que vi pessoalmente
durante a minha pesquisa, mas resolvi fazer a calda usando como referência a
baleia franca, pois é uma das baleias mais avistadas na praia do cassino e por
eu achar a anatomia da calda mais relevante para a construção do meu trabalho.
A baleia franca foi intensamente caçada no
Hemisfério sul entre os séculos XVII e XX. Apesar de estar protegida desde
1935, capturar ilegais de baleias francas foram realizadas, inclusive em águas
brasileiras. Atualmente, as principais ameaças enfrentadas pelas baleias são as
colisões com embarcações e emalhamento em artefatos de pesca. Na cidade de Rio
grande, o indicativo dessa mortalidade está associada ao intenso tráfego
marítimo gerado pelo superporto, cujas rotas de acesso devem seccionar os eixos
migratórios sazonais das baleias. (ROCHA-CAMPOS, pág.33, 2011).
A calda da baleia colocada nas areias da
praia do Cassino, intitulada “Baleia mergulhando” (Figuras 10, 11 e 12) foi
instalada no dia 16/ 02/ 2013, na direção da Estátua de Iemanjá. Utilizei areia
como suporte desse trabalho, não fugindo do meu objetivo de destacar as conchas
como elemento principal, mas a parte superior da calda levei pronta. Resolvi ir
bem cedo para a praia por volta da 6hs, para que quando os banhistas chegassem
imediatamente se deparassem com esse elemento compondo a paisagem.
Minha ideia era
ver o que aconteceria com essa instalação durante o dia, ao retornar a praia às
14hs o trabalho já não se encontrava mais lá, apenas restando o suporte de areia
(Figura 13), portanto não consegui avaliar algo mais.
Para dialogar com o trabalho “Baleia
mergulhando” (Figura 10,11e 12), cito o artista plástico inglês Antony Gormley
que realiza notáveis intervenções. Um de seus trabalhos chamado “Another Place”,
(Figura 14) que consiste em 100 figuras em tamanho natural de ferro fundido,
espalhadas por três quilômetros ao longo da praia entre Waterloo e Blundellsands, Inglaterra. Cada figura tem 1.89
cm de altura e pesa cerca de 650 kg estendendo-se
quase um quilômetro para o mar, olhando para o horizonte em silenciosa
expectativa. O trabalho é visto como uma resposta poética aos sentimentos
individuais e universais associados com a emigração e a tristeza em deixar o
lugar, mas com a esperança de um futuro novo em outro lugar.
De acordo com Antony Gormley, Another
Place "aproveita o fluxo e refluxo da maré para explorar a relação do
homem com a natureza". Ele explica:
“O mar é um bom lugar para fazer isso. Aqui o
tempo é testado pela arquitetura e Maré, pelos elementos e a prevalência do céu
parece questionar a substância da terra. Nesse trabalho a vida humana é testada
contra o tempo planetário. Esta escultura expõe à luz e tempo, a nudez de um
corpo particular e peculiar. Ele não é um herói, não é o ideal, apenas o corpo
industrialmente reproduzido de um homem de meia-idade tentando se manter de pé
e tentando respirar, de frente para um horizonte ocupado com navios de
movimentação de materiais e coisas manufaturados ao redor do planeta.”
Figura 14: Another Place, Antony Gormley,
Crosby, Inglaterra, 2005. http://revistapegn.globo.com/Revista/Common/0,,EMI321390-17180,00-BRITANICO+REGISTRA+IMAGENS+DE+ESCULTURA+DE+FERRO+QUE+CONTEMPLA+PAISAGEM+PAR.html Acesso
em 24/01/20013
Interferir no cotidiano das pessoas parece
ser o forte desse artista. E interferir também sempre foi o meu propósito,
procurei de alguma forma chamar a atenção das pessoas com trabalhos artísticos
instalados na praia, chamando a atenção para a preservação ambiental.
6.
TRABALHO: SOS TARTARUGA
As
tartarugas marinhas, seres que passam a vida toda no mar, somente as fêmeas
adultas saem para desovar nas praias. Nas águas da Praia do Cassino,
encontramos cinco espécies, são elas: Cabeçuda, verde, de couro, de pente e
oliva.
A Tartaruga Verde tem o casco castanho
esverdeado ou acinzentado com cerca de 1,20 metros de comprimento e pesa em
média 250 kg, podendo atingir até 350 kg e alimenta-se exclusivamente de algas.
Pode ser vista, com relativa facilidade, ao longo de todo o litoral brasileiro.
Para desovar prefere as ilhas oceânicas, como Fernando de Noronha (PE), Atol
das Rocas (RN) e Trindade (ES).
Figura 15: Elisângela
Santos, Praia do Cassino, Tartaruga marinha, 2012. Arquivo pessoal
O trabalho intitulado “SOS Tartaruga”
(Figuras 16, 17 e 18), foi instalado na praia do Cassino, dia 20/01/2013, perto
do navio encalhado Altair, ponto muito visitado pelos turistas. O trabalho
levou 2hs para ser montado, tendo 1,30m de cumprimento, acompanhado das letras
“SOS” cavadas na areia, fazendo uma composição com a tartaruga, as letras
mediam 3m de comprimento. O trabalho foi modelado com areia do próprio ambiente
acrescido de conchas também coletadas no mesmo lugar.
Essa
instalação teve o mesmo seguimento de pensamento das outras, buscando novamente
a reflexão sobre a preservação ambiental marinha, a mesma foi abandonada na
areia, para os que passarem por lá tivessem um minuto de reflexão e que de
alguma forma isso contribua.
Dialogo dessa vez com o artista Robert
Smithson teve a ideia de produzir arte a partir de uma nova espécie de
readymade: a terra, enquanto lugar em constante transformação. "Um grande
artista - escreve Smithson - pode realizar arte simplesmente com o olhar. Uma
série de olhares podem ser tão sólidos como qualquer coisa ou lugar, mas a
sociedade continua a valorizar apenas os objetos de arte". Não podemos
esquecer que a obra para um sítio específico evidencia que o lugar está em
permanente mutação. É a própria intervenção artística que possibilita uma nova
maneira de apreender e vivenciar o lugar, buscando novas significações e novos
modos de ver. O espectador tem desse modo a sua capacidade de observação
questionada, a percepção exige um trabalho: caminhar, investigar. Ver com os
pés. Robert Smithson é o mais importante precursor dessa estratégia vivencial e
artística. Os lugares confirmam-se assim enquanto monumentos da natureza, como
dimensões de espaço e tempo que transcendem a experiência e a capacidade
individuais. As operações pontuais que o artista exerce sobre elas não procuram
adequar-se ao lugar, criar um sentido de identidade, mas confrontar o
observador com a complexidade e a instabilidade dessas configurações. (ARQA, 2009).[9]
Lama, pedras e cristais de sal formam um
espiral (Spiral Jetty, figura 12) de 460 m de comprimento e 4,5 m de altura no
lago de água salgada de Utah, nos Estados Unidos. Construída em 1970, a
intervenção do americano
resiste ao tempo e pode ser vista nos dias de hoje durante o período de baixa
da lagoa. (VOGUE, 2012)[10]
Identifiquei-me com seu trabalho no modo
como ele se relaciona com o espaço, é um trabalho pensado especificamente para
aquele lugar, onde o mesmo faz parte da natureza e só tem sentido naquele local
escolhido e idealizado por um grande tempo anterior a sua intervenção, buscando
a concretização material e real de tudo aquilo que só existia na imaginação.
7. TRABALHO: PEIXES NA REDE
Esse trabalho “Peixes na rede” (Figuras 20
e 21) também foi instalado na Praia do Cassino no dia 09/02/2013, na direção da
Iemanjá, perto das dunas. Composta de uma rede de pesca encontrada abandonada
na beira da orla, e agreguei a ela três peixes feitos de conchas. O trabalho “Peixes na
rede” faz referência à pesca predatória que é aquela que retira do meio ambiente,
mais do que ele consegue repor, diminuindo a população de peixes e mesmo de
plantas do ecossistema. A pesca predatória tem consequências desastrosas,
podendo limitar a produtividade pesqueira, quer seja do ponto de vista
biológico, quer econômico.
O
crescimento econômico e a modernização impulsionam investimentos em novas
tecnologias de pesca, que não só influenciam a escala das capturas como alteram
qualitativamente a forma como o pescado é capturado. (ROCHA-CAMPOS, pág.58,
2011).
Figura 20: Peixes na rede, Praia do Cassino, Elisângela Santos, concha. Cola, papelão, rede, 2013. Acervo Pessoal.
Figura 21: Peixes na rede, Praia do Cassino, Elisângela Santos, concha,
Cola, papelão, rede, 2013. Acervo Pessoal.
Para dialogar com a minha proposta, cito a
artista, Ann Carrington, que estudou na Bourneville College of Art, Birmingham
e The Royal College of Art de se formou em 1987. Uma de suas criações
preferidas foi “Shell Ladies” (Figura 22), instaladas no final de 2009, no cais
olhando para o mar. A artista ganhou um concurso nacional uma escultura pública
para a cidade de Margarete, (Margaret é uma cidade pequena ao lado do mar,
famosa por suas belas praias na Austrália). Carrigton, na sua juventude
costumava visitar as lojas de souvenirs em Margarete e elas estavam cheias de
senhoras feitas de conchas do mar, por isso a ideia para a escultura que tinha
muita relação com a cidade. Quando
foi contratada para fazer obras de arte para Margate ela decidiu fazer 12
senhoras tamanho real do escudo de conchas de vieira reais recolhidos de
pescadores locais. As conchas de vieira tem forma de leque, com seu
padrão de pregas radiantes, são apreciadas por colecionadores e , ostentado
pelos peregrinos a Santiago de Compostela. É também a concha representada em O
Nascimento de Vênus de Botticelli[11].
Dessa forma,
tento comparar meu trabalho “Peixes na rede” (Figuras 20 e 21) com a artista
Ann Carrington, tanto ela quanto eu, usamos desta vez, a repetição de objetos
no meu caso, utilizei vários peixes feitos de concha e Carrington várias figuras
humanas femininas de conchas
Figura 22: Shell Ladies, Ann Carrigton, Margate
Sands, 2009. Fonte:
http://www.anncarrington.co.uk/the-shell-ladies Acesso em 19/05/2012
E uma das questôes que busco referência é
o local da instalação, a praia. Com objetivos diferentes, mas com igual desejo
de se fazer entender em seu pensamento, onde a praia é o local ideal para ambas
e onde a concha é importante para a concretização do pensamento.
8. REGISTROS PRECURSORES PARA REALIZAÇÃO DE NOVOS ANSEIOS
Para cumprir-se
esta pesquisa tive como trajetória e motivação o desenvolvimento de um trabalho
prático, que tem como tema principal, as conchas juntamente com construções e
reflexões artísticas. Neste percurso, percebendo em mim um amadurecimento que
levou a refletir sobre essa junção entre arte e natureza, sendo possível de
forma harmoniosa contemplar as ideias num único conjunto de linguagem.
A pesquisa tornou-se
mais consistente quando encontrei referências em outros artistas, dessa forma
percebo que minhas esculturas não servirão apenas como base para o trabalho de
conclusão de curso, mas que possibilitaram o início de uma produção artística.
Também pude compreender que as criações tridimensionais realizados na
disciplina de Introdução a Tridimensionalidade, foram apenas o início, o
caminho que me levou ao prazer do ato de conceber algo que me possibilite
exteriorizar todo o meu desejo de unir a arte a natureza, e a concretização de
desejos a partir da ideia de preservação não só da natureza como também da
arte. Essa vontade que me leva a criar trabalhos que sirvam de apelo, de
reflexão e de consciência de cuidar do que é nosso, do nosso mundo, do nosso
mar, da nossa praia, dos seres vivos, da fauna marinha e nunca distanciando o
pensamento de unir tudo isso a arte.
Penso que minha experiência como alguém
engajada a contribuir com a pesquisa e a criação sobre a preservação ambiental,
principalmente da fauna marinha em forma de arte não tenha acabado, porque esse
desejo sempre esteve presente na minha vida e que se tornou mais forte na minha
vida acadêmica. Este trabalho bem como minha produção poética não está
encerrado, continuo criando e refletindo, e esses trabalhos, que foram aqui
concebidos, foram só os pioneiros de uma longa caminhada que ainda pretendo
trilhar. Por isso e pelo ato de continuar buscando possibilidades em preservar
não só a natureza como também a arte, não me dou por satisfeita e sigo
almejando novos horizontes para o meu processo criativo.
Concluo que ao término de todo esse
processo, ainda não alcancei todos os objetivos pretendidos, acredito que de
alguma forma tudo o que fiz fez diferença, apesar de ter atingido poucas
pessoas e ainda por eu não ter conseguido, muitas vezes, analisar a reação do
público, após ter abandonado a obra na praia.
O artista, impulsionado a vencer o
desafio, sai em busca da satisfação de sua necessidade. Ele é seduzido pela
concretização desse desejo que por ser operante, o leva a ação. (Cecília Salles,
pg.29).
E
foi exatamente o que senti no decorrer de toda a pesquisa, pois o processo de
criação é um caminho nebuloso e tenso, é um percurso para organizar as ideias,
planos e possibilidades. O anseio em tornar a ideia em realidade é algo que
move o desejo para expressar na obra tudo o que almejamos.
Cada criação reflete os princípios, os
propósitos, as convicções, as ideologias do seu criador, ou seja, o artista
revela-se plenamente e inteiramente em suas criações artísticas. Mas nesse
percurso muitas ideias mudam, a obra vai se moldando ao momento, se encaixando
conforme as necessidades. É um processo contínuo, o trajeto muda a todo o
momento, o meu pelo menos mudou, o trabalho quando está no campo das ideias é
muito superficial e só passei a compreendê-lo no momento de torná-los concretos
até o dia de colocá-los na praia.
Ao término dessa pesquisa, sinto que
embora eu tenha amadurecido muito e que tenha conseguido de alguma forma
colaborar com a arte, ainda posso e devo continuar buscando formas de melhorar,
principalmente no sentido de manter um contato maior com as pessoas
[10]http://casavogue.globo.com/LazerCultura/noticia/2012/05/top-10-obras-de-arte-feitas-na-natureza.htm
6. REFERÊNCIAS:
BACHELARD, Gaston. A poética do espaço, Cap.5: A concha, São Paulo: Martins Fontes, 1993.
ÉPOCA, Redação, Revista Época Negócios, Artista
expõe esculturas no fundo do mar, Jason Taylor, Editora Globo, São Paulo, SP,
2010. Disponível em: http://epocanegocios.globo.com/Revista/Common/0,,EMI118963-16367,00-ARTISTA+EXPOE+ESCULTURAS+NO+FUNDO+DO+MAR.html Acesso em 20 de Janeiro de 2013.
REVISTA PEGN, Pequenas empresas grandes
negócios, Editora Globo S/A, edição 285,
Outubro de 2012.
ROCHA-CAMPOS, Claudia C., Plano de ação
nacional para conservação dos mamíferos aquáticos: grandes cetáceos e pinípedes: versão III, Brasília,DF, 2011.
SANTOS, David. REVISTA ARQA, Arquitectura e Arte Contemporâneas, Robert
Smithson: Tempo, entropia e arte, Lisboa: Editor Futurmagazine – Soc. Editora Lda, Lisboa, 2009. Disponível em: http://www.revarqa.com/content/1/198/robert-smithson/ Acesso em 10 dez 2012.
VALÉRY, Paul. Variedades. Editora: Iluminuras LTDA,
São Paulo, SP, 1999.
VOGUE, REVISTA CASA VOGUE. Land Arte: Obras de arte feitas na natureza, Robert
Smithson, 2012. Disponível em: http://casavogue.globo.com/LazerCultura/noticia/2012/05/top-10-obras-de-arte-feitas-na-natureza.html Acesso em 11 de Novembro de 2012.
LUCAS,
Arquitetônico: Arte, cultura e arquitetura, Land Art, A arte de apreciar a paisagem, 2011. Disponível
em: http://www.arquitetonico.ufsc.br/land-art Acesso em: 14 de
Outubro de 2012.